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O mês de setembro é dedicado a uma das campanhas mais significativas do ano: à conscientização e à prevenção do suicídio. Esta iniciativa, conhecida internacionalmente como Setembro Amarelo, visa quebrar o tabu em torno de um tema urgente e delicado, que afeta milhares de pessoas em todo o mundo.
Reconhecendo a importância de abordar este assunto de forma sensível, o Conselho Regional de Medicina de Mato Grosso (CRM-MT) está realizando neste mês uma campanha nas redes sociais focada na prevenção ao suicídio. A iniciativa visa apoiar e educar a comunidade, destacando estratégias eficazes de prevenção e incentivando o diálogo sobre o tema.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), 90% dos casos de suicídio poderiam ser evitados. O psiquiatra Emanuel Vicente destaca que falar sobre o tema é crucial para prevenir e tratar o suicídio. “É fundamental encarar o suicídio como uma questão de saúde pública, e não como um evento imprevisível. Assim como os acidentes de trânsito podem ser prevenidos com campanhas e regulamentações, o suicídio também pode ser evitado com medidas adequadas”, explica.
O psiquiatra ressalta que a educação e a conscientização são ferramentas poderosas para reduzir o estigma e incentivar a busca por ajuda. “Criar um ambiente onde as pessoas se sintam seguras para compartilhar suas angústias pode fazer uma grande diferença. Informar a comunidade sobre os sinais de alerta e os recursos disponíveis é uma maneira eficaz de prevenir o suicídio”, completa.

Tabu e preconceito
O tabu e o preconceito ainda dificultam uma abordagem clara e objetiva sobre o suicídio. A médica psiquiatra Luciana Arcos observa que esses estigmas não se restringem apenas ao suicídio, mas se estendem a todas as questões relacionadas à saúde mental. “Existem muitos tabus e preconceitos em relação ao suicídio e, de forma geral, às doenças mentais. Muitas pessoas não levam a saúde mental a sério, acreditando que é ‘frescura’ ou algo que não merece atenção. Isso dificulta a abordagem do tema, pois há um grande receio de falar abertamente sobre essas questões”.
Para a especialista em saúde mental, abordar diretamente o suicídio e as doenças mentais é crucial, pois muitas pessoas mostram comportamentos de risco sem um plano claro de suicídio. “Por exemplo, podem dirigir de forma imprudente, usar substâncias em excesso ou se isolar socialmente. É necessário perguntar com cuidado e acolhimento sobre os pensamentos e sentimentos da pessoa para oferecer a ajuda adequada”, pontua.

Reação ao sofrimento
Entender por que algumas pessoas recorrem ao suicídio enquanto outras conseguem buscar ajuda é um desafio complexo. Segundo a psiquiatra Luisa Forte Stuchi, cada indivíduo tem uma história única e formas distintas de processar emoções, influenciadas por fatores como genética, ambiente, experiências traumáticas e o estado de saúde mental. Estudos recentes identificaram 12 variantes genéticas associadas ao risco de tentativa de suicídio, destacando uma conexão entre impulsividade, doenças pulmonares, transtornos como TDAH, e condições de saúde física e comportamental, sugerindo que os fatores genéticos podem contribuir significativamente para o risco de suicídio.
“O suicídio é resultado de uma combinação complexa de fatores, mas pode ser evitado com intervenções adequadas, como apoio psicossocial e tratamento psiquiátrico”, destaca Forte. Patologias psiquiátricas, como depressão e transtorno bipolar, estão entre as condições mais associadas ao suicídio, devido à sensação de desesperança e sofrimento intenso. A psiquiatra Luciana Arcos, acrescenta que, apesar de algumas pessoas conseguirem superar crises severas e buscar tratamento, outras podem sucumbir ao sofrimento, reforçando a importância do diagnóstico precoce e do acesso a cuidados de saúde mental.

Prevenção desde a infância
A educação em saúde mental desde a infância é fundamental para que as pessoas aprendam a lidar com seus sentimentos de forma saudável. Para Arcos, “ensinar crianças e adolescentes sobre saúde mental é vital para uma vida de qualidade e para prevenir o suicídio”.
De acordo com a OMS, 1 em cada 7 adolescentes no mundo sofre de transtornos como ansiedade e depressão, e metade dos casos de saúde mental começa aos 14 anos. A ausência de suporte adequado pode levar a problemas graves na vida adulta, inclusive comportamentos suicidas. No Brasil, o suicídio é a segunda maior causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos.
Um ambiente que acolha a expressão dos sentimentos sem julgamentos ajuda a reduzir os riscos futuros, promove bem-estar emocional e desenvolve habilidades como empatia e resiliência. Programas de educação emocional nas escolas, com práticas como mindfulness, têm mostrado resultados positivos na saúde mental dos jovens, formando uma geração mais equilibrada.

A masculinidade e o silêncio
Os homens são as principais vítimas de problemas de saúde mental e suicídio devido a fatores culturais e sociais. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), globalmente, os homens têm até três vezes mais chances de cometer suicídio do que as mulheres. No Brasil, a taxa de suicídio masculino é cerca de 79% mais alta.
A pressão para se encaixar a estereótipos de masculinidade, como a ideia de que homens devem ser fortes e não expressar emoções, muitas vezes impedem que busquem ajuda. Essa resistência agrava transtornos como depressão e ansiedade, elevando o risco de suicídio. O tema do Setembro Amarelo deste ano, “Se precisar, peça ajuda”, é crucial para combater essa barreira, incentivando os homens a reconhecerem suas vulnerabilidades e procurarem apoio sem medo de julgamentos.
Além disso, adotar hábitos saudáveis, como atividades físicas, boa alimentação e momentos de lazer, podem melhorar a saúde mental e estabelecer uma rotina de autocuidado. Promover uma mudança cultural que encoraje os homens a expressarem suas emoções e buscarem ajuda é fundamental para enfrentar essa crise de saúde mental.
Segundo Forte, o tema deste ano visa fortalecer a ideia de que não precisamos enfrentar as dificuldades sozinhos. “Este ano, perdi uma prima muito amada porque ela se fechou em sua dor, deixou de fazer tratamento e se isolou. Infelizmente, minha família não conseguiu enxergar os sinais a tempo, e a perdemos. Quero alertar a todos para ficarem atentos a quem está em sofrimento e aos sinais, e para direcionar essas pessoas em busca de ajuda profissional. Se você está passando por um momento complicado, não hesite em procurar ajuda. Há sempre esperança.” desabafa a especialista.

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