Todos os dias, 202 pessoas recebem o diagnóstico de câncer de mama no Brasil. Principal causa de mortes por câncer em mulheres, a doença tem um alto índice de chance de cura se detectada precocemente, ultrapassando os 90%. No entanto, para que isso ocorra, é de fundamental importância a informação sobre os sintomas e sinais aos quais as mulheres precisam ficar atentas e, acima de tudo, a existência de uma rede eficiente de atendimento. Por isso, o mês de outubro é reservado para a realização de um movimento internacional de conscientização do problema, o Outubro Rosa.
De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (INCA), cerca de 74 mil novos casos de câncer de mama são esperados anualmente no Brasil. O diagnóstico precoce é essencial para aumentar as chances de cura. Luciano Florisbelo, mastologista e secretário-geral do Conselho Regional de Medicina de Mato Grosso (CRM-MT), enfatiza que identificar a doença em estágios iniciais é crucial para o sucesso do tratamento. “Quando o câncer é detectado precocemente, o tratamento tende a ser menos agressivo e as chances de cura são significativamente maiores”, afirma.
Infelizmente, muitos casos no Brasil ainda são diagnosticados tardiamente. O especialista explica que, quando o tumor ultrapassa cinco centímetros ou atinge órgãos como pulmões ou fígado, o tratamento se torna mais complicado, com menores chances de cura e maior impacto na qualidade de vida das pacientes. Nesses casos, a taxa de sobrevida diminui consideravelmente e os procedimentos necessários são mais invasivos.
Por outro lado, o cenário é mais otimista para tumores detectados em fases iniciais. “Tumores abaixo de dois centímetros, com a axila sem comprometimento, têm uma taxa de cura de 96%”, ressalta. Esse resultado é possível graças a exames preventivos regulares, como a mamografia, que conseguem identificar o câncer antes que ele apresente sintomas mais agressivos.
Apesar das campanhas de conscientização, a adesão aos exames preventivos no Brasil ainda é insuficiente. Dados da Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) mostram que apenas 24% das mulheres na faixa etária recomendada realizam mamografias com a frequência adequada. “Isso explica por que muitos diagnósticos no Brasil ainda são feitos tardiamente”, complementa Florisbelo.
Fatores de risco e prevenção
Embora o câncer de mama possa afetar qualquer mulher, alguns fatores aumentam o risco de desenvolver a doença. O principal fator de risco é ser mulher e envelhecer. Embora homens também possam ser afetados, o câncer de mama é significativamente mais comum entre mulheres, especialmente após os 50 anos. Outros fatores de risco incluem histórico familiar, uso prolongado de terapias hormonais, obesidade, sedentarismo e consumo excessivo de álcool e cigarro.
Para minimizar esses riscos, o médico recomenda a adoção de hábitos de vida saudáveis. “As mulheres devem praticar atividades físicas regularmente, manter uma dieta equilibrada e evitar o tabagismo e o consumo excessivo de bebidas alcoólicas. Essas medidas preventivas são fundamentais, especialmente em um país como o Brasil, onde muitas mulheres ainda descobrem o câncer de mama em estágios avançados”, enfatiza.
A força de quem venceu o câncer de mama
Leysliane Helena, de 42 anos, é uma das muitas brasileiras que enfrentaram o câncer de mama. Ela recebeu o diagnóstico em 2020, durante a pandemia da Covid-19, após buscar atendimento médico por causa de um desconforto no braço. “Fiz um ultrassom que não mostrou nada, mas insistiram em fazer uma ressonância e, assim, localizaram o nódulo. No começo, achei que era um engano; demorei dias para assimilar e acreditar que eu poderia estar doente. O maior desafio foi enfrentar tudo sozinha, até que chegou um momento em que não consegui mais esconder”, contou.
Leysliane relata que seu tumor foi detectado em estágio inicial, o que foi essencial para o sucesso do tratamento. Sua determinação em investigar os sintomas foi decisiva. “Fazer o exame precoce foi fundamental para o meu tratamento”, diz. Após cirurgia e quimioterapia, Leysliane foi declarada curada em 2021. Agora, ela alerta outras mulheres sobre a importância dos exames preventivos, destacando que o autoexame é essencial não apenas para o diagnóstico do câncer de mama, mas também para a detecção de outras doenças.
Referência em tratamento
O Hospital de Câncer de Mato Grosso (HCanMT), localizado em Cuiabá, é uma das principais referências em tratamento oncológico no estado, oferecendo atendimento especializado a milhares de pacientes. Desde sua fundação, o hospital se destaca pelo atendimento humanizado e pelos avanços em oncologia de alta complexidade. Em 2023, o HCanMT atendeu mais de 176 mil pacientes, realizando mais de 5 mil cirurgias, cerca de 30 mil sessões de radioterapia e mais de 31 mil de quimioterapia.
De acordo com Erik Bustamante, vice-presidente do HCanMT, o hospital é uma referência no tratamento oncológico, atendendo pacientes de municípios do interior e de estados vizinhos. “Contamos com uma equipe multidisciplinar, incluindo cirurgia oncológica, radioterapia, quimioterapia, fisioterapia, psicologia e cuidados paliativos, garantindo um tratamento abrangente e de alta qualidade”, explica.
Durante o Outubro Rosa, o hospital intensifica sua atuação com campanhas em municípios do interior, utilizando um ônibus equipado com mamógrafo para realizar exames locais e encaminhar casos suspeitos para avaliação especializada no HCanMT. “Além de oferecer diagnóstico precoce e tratamento ágil, o hospital também realiza cirurgias de reconstrução mamária, promovendo a recuperação da autoestima das pacientes”, acrescenta.
O HCanMT, em parceria com a Rede Feminina, lançou a campanha Outubro Rosa 2024, que inclui palestras de especialistas, apresentações artísticas e depoimentos inspiradores de pacientes curadas. Durante todo o mês, serão disponibilizadas 500 vagas para exames de mamografia, focadas em mulheres acima de 40 anos ou com histórico familiar da doença. Além disso, a Unidade Móvel do hospital realizará atendimentos de 14 a 18 de outubro. Empresas e instituições interessadas podem solicitar palestras sobre câncer de mama ao Núcleo de Ensino do HCanMT, com vagas limitadas.
A campanha
O movimento conhecido como Outubro Rosa teve início na década de 1990, quando a Fundação Susan G. Komen for the Cure começou a distribuir laços cor-de-rosa aos participantes da primeira Corrida pela Cura. Desde então, o laço se tornou um símbolo amplamente reconhecido, sendo distribuído em eventos públicos, desfiles de moda e diversas iniciativas de conscientização. Ainda naquela década, diversas cidades americanas começaram a adotar ações focadas na prevenção do câncer de mama, dando origem ao Outubro Rosa como o conhecemos.
No Brasil, o Outubro Rosa levou mais tempo para ganhar visibilidade. O primeiro marco da campanha ocorreu em outubro de 2002, quando o Obelisco do Ibirapuera, em São Paulo, foi iluminado com luzes cor-de-rosa. Nos anos seguintes, o movimento avançou de forma tímida, mas foi somente em 2008 que a campanha começou a crescer em várias cidades do país, passando a contar com corridas, campanhas de conscientização e a tradicional iluminação de monumentos com a cor rosa, seguindo o exemplo de outros países ao redor do mundo.