Seg, 25 de Junho de 2012


 

Por que muita gente que recebe uma receita de remédio para baixar colesterol acaba não tomando o comprimido? Como uma pessoa com câncer em estágio inicial decide se vai se tratar com radioterapia, cirurgia ou se espera?
Como e por que as pessoas tomam esse tipo de decisão é o tema do livro “Your Medical Mind” (Penguin Press, US$ 15 em e-book), dos médicos americanos Jerome Groopman e Pamela Hartzband.
O casal propõe que os médicos reconheçam os perfis de mentalidade dos pacientes (veja quadro abaixo) para melhorar sua comunicação. Groopman e sua mulher, Pamela, ambos professores da Universidade Harvard, falaram à Folha por telefone.
Para ter autonomia de decisão sobre um tratamento, o paciente precisa de informação, mas muitos médicos detestam que as pessoas pesquisem na internet.
Pamela Hartzband – Os pacientes vão procurar informações na internet quer você queira quer não. Os médicos não deveriam ficar incomodados. É papel deles descobrir o que o paciente pensa sobre seu problema.
Jerome Groopman – Há uma mudança no modelo de medicina. No passado, havia um modelo muito paternalista. Eu cresci numa família na qual, se o médico dizia para fazer tal coisa, você fazia e não perguntava nada.
Agora, tentamos entender as preferências e a mentalidade do paciente e trabalhar juntos. É o que chamamos de decisão compartilhada. No modelo paternalista, metade das pessoas que saem do consultório com uma receita nem compram o remédio.
O que um paciente pode fazer para mudar isso?
Hartzband – Uma coisa que pode ajudar é, desde o início, ser claro com o médico sobre suas preferências. Algumas pessoas já dizem: “Não gosto de tomar remédio”. Ou: “Gosto de produtos naturais em vez de remédios”. Mas muitas vezes há limitações, como o tempo para as consultas.
No livro vocês descrevem os perfis de pacientes: minimalista, “maximalista”, confiante, desconfiado, naturalista e tecnológico. Qual desses tem mais dificuldade de escolher tratamentos e como ajudá-lo?
Hartzband – O desconfiado é mais difícil porque fica preocupado com os efeitos colaterais e acha que o tratamento será pior do que a doença.
Groopman – O primeiro passo é reconhecer que a pessoa é um desconfiado. Uma das coisas que esperamos é que os médicos adotem esses perfis que propusemos no livro para melhorar a comunicação com os pacientes.
Para atender um desconfiado, por exemplo, é preciso saber por que ele pensa assim. Se, no passado, um médico cometeu um erro com aquela pessoa, isso reduz seu nível de confiança. Ou o paciente pode ter ouvido uma história de uma pessoa que fez um tratamento e sofreu efeitos colaterais terríveis. Entender essa mentalidade permite que o médico contextualize a postura do paciente.
Vocês falam muito sobre como tentar escolher um tratamento é tentar prever o futuro, uma tarefa difícil. Como enfrentar isso?
Groopman – Pesquisas de psicólogos como Daniel Gilbert, de Harvard, buscaram saber como conversar com outras pessoas que já passaram por uma experiência ajuda a prever como será sua própria experiência.
Conversando com muitos pacientes pelo país todo, muitos homens nos disseram que ajudou muito falar com outros, especialmente os que tinham formação parecida com a deles, a mesma filosofia de vida, para imaginar o futuro após a escolha de um tratamento para câncer de próstata. Isso lhes deu um entendimento mais claro e concreto sobre como a vida deles vai ser.
Algumas pessoas buscam apoio nas pesquisas e nas estatísticas sobre os tratamentos, mas vocês dizem que isso não ajuda. Por quê?
Hartzband – É preciso ter muito cuidado com números. No livro falamos de uma mulher cujo médico disse que, se ela tomasse uma estatina contra colesterol, seu risco de infarto seria reduzido em 30%. Mas, quando ela procurou saber o risco de uma pessoa como ela sofrer um infarto nos dez anos seguintes, sem tomar remédio algum, viu que era de 1%. Então seu risco de 1% poderia ser reduzido em 30%. Quando você ouve que o risco é reduzido em 30%, sua mente o engana. Você pensa que seu risco é de 100%. Os números são difíceis de interpretar.
O risco de um nódulo na tireoide ser câncer é de 16%, segundo estudos. Para o indivíduo, é sim ou não: ele tem ou não tem. Um “maximalista” diria: “Quero remover o nódulo”. Um minimalista, não. O mesmo número tem um impacto diferente dependendo da sua mentalidade.
Se os pacientes têm seus vieses, os médicos também os têm. Um especialista tende a recomendar mais as técnicas que ele mesmo usa. O que o paciente deve fazer?
Groopman – Se um paciente entende por que recebe indicações diferentes e que isso tem base na mentalidade do médico, isso o ajuda a se perguntar: “Qual é a minha mentalidade? Até onde estou disposto a me arriscar?”. Quanto mais os pacientes entendem os riscos e os benefícios de tomar um remédio, maior é a diversidade de escolhas de cada um. Acreditamos em uma medicina baseada em avaliação cuidadosa, não só em evidências. Você olha as evidências e faz sua avaliação com base no paciente.

Por que muita gente que recebe uma receita de remédio para baixar colesterol acaba não tomando o comprimido? Como uma pessoa com câncer em estágio inicial decide se vai se tratar com radioterapia, cirurgia ou se espera?Como e por que as pessoas tomam esse tipo de decisão é o tema do livro “Your Medical Mind” (Penguin Press, US$ 15 em e-book), dos médicos americanos Jerome Groopman e Pamela Hartzband.

O casal propõe que os médicos reconheçam os perfis de mentalidade dos pacientes (veja quadro abaixo) para melhorar sua comunicação. Groopman e sua mulher, Pamela, ambos professores da Universidade Harvard, falaram à Folha por telefone.

Para ter autonomia de decisão sobre um tratamento, o paciente precisa de informação, mas muitos médicos detestam que as pessoas pesquisem na internet.

Pamela Hartzband – Os pacientes vão procurar informações na internet quer você queira quer não. Os médicos não deveriam ficar incomodados. É papel deles descobrir o que o paciente pensa sobre seu problema.

Jerome Groopman – Há uma mudança no modelo de medicina. No passado, havia um modelo muito paternalista. Eu cresci numa família na qual, se o médico dizia para fazer tal coisa, você fazia e não perguntava nada.
Agora, tentamos entender as preferências e a mentalidade do paciente e trabalhar juntos. É o que chamamos de decisão compartilhada.

No modelo paternalista, metade das pessoas que saem do consultório com uma receita nem compram o remédio.

O que um paciente pode fazer para mudar isso?Hartzband – Uma coisa que pode ajudar é, desde o início, ser claro com o médico sobre suas preferências. Algumas pessoas já dizem: “Não gosto de tomar remédio”. Ou: “Gosto de produtos naturais em vez de remédios”. Mas muitas vezes há limitações, como o tempo para as consultas.

No livro vocês descrevem os perfis de pacientes: minimalista, “maximalista”, confiante, desconfiado, naturalista e tecnológico. Qual desses tem mais dificuldade de escolher tratamentos e como ajudá-lo?Hartzband – O desconfiado é mais difícil porque fica preocupado com os efeitos colaterais e acha que o tratamento será pior do que a doença.Groopman – O primeiro passo é reconhecer que a pessoa é um desconfiado. Uma das coisas que esperamos é que os médicos adotem esses perfis que propusemos no livro para melhorar a comunicação com os pacientes.Para atender um desconfiado, por exemplo, é preciso saber por que ele pensa assim. Se, no passado, um médico cometeu um erro com aquela pessoa, isso reduz seu nível de confiança. Ou o paciente pode ter ouvido uma história de uma pessoa que fez um tratamento e sofreu efeitos colaterais terríveis. Entender essa mentalidade permite que o médico contextualize a postura do paciente.

Vocês falam muito sobre como tentar escolher um tratamento é tentar prever o futuro, uma tarefa difícil. Como enfrentar isso?Groopman – Pesquisas de psicólogos como Daniel Gilbert, de Harvard, buscaram saber como conversar com outras pessoas que já passaram por uma experiência ajuda a prever como será sua própria experiência.Conversando com muitos pacientes pelo país todo, muitos homens nos disseram que ajudou muito falar com outros, especialmente os que tinham formação parecida com a deles, a mesma filosofia de vida, para imaginar o futuro após a escolha de um tratamento para câncer de próstata. Isso lhes deu um entendimento mais claro e concreto sobre como a vida deles vai ser.

Algumas pessoas buscam apoio nas pesquisas e nas estatísticas sobre os tratamentos, mas vocês dizem que isso não ajuda. Por quê?Hartzband – É preciso ter muito cuidado com números. No livro falamos de uma mulher cujo médico disse que, se ela tomasse uma estatina contra colesterol, seu risco de infarto seria reduzido em 30%. Mas, quando ela procurou saber o risco de uma pessoa como ela sofrer um infarto nos dez anos seguintes, sem tomar remédio algum, viu que era de 1%. Então seu risco de 1% poderia ser reduzido em 30%. Quando você ouve que o risco é reduzido em 30%, sua mente o engana. Você pensa que seu risco é de 100%. Os números são difíceis de interpretar.O risco de um nódulo na tireoide ser câncer é de 16%, segundo estudos. Para o indivíduo, é sim ou não: ele tem ou não tem. Um “maximalista” diria: “Quero remover o nódulo”. Um minimalista, não. O mesmo número tem um impacto diferente dependendo da sua mentalidade.

Se os pacientes têm seus vieses, os médicos também os têm. Um especialista tende a recomendar mais as técnicas que ele mesmo usa. O que o paciente deve fazer?Groopman – Se um paciente entende por que recebe indicações diferentes e que isso tem base na mentalidade do médico, isso o ajuda a se perguntar: “Qual é a minha mentalidade? Até onde estou disposto a me arriscar?”. Quanto mais os pacientes entendem os riscos e os benefícios de tomar um remédio, maior é a diversidade de escolhas de cada um. Acreditamos em uma medicina baseada em avaliação cuidadosa, não só em evidências. Você olha as evidências e faz sua avaliação com base no paciente.


Fonte: Folha Online

 

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