Durante o mês de fevereiro, as cores Roxo e Laranja ganham destaque no calendário da saúde, alertando a população sobre doenças crônicas que impactam milhares de pessoas no Brasil e no mundo. Essas condições, que não têm cura, incluem fibromialgia, lúpus e Alzheimer (representadas pela cor roxa) e leucemia (laranja). Além de reforçar a importância do diagnóstico precoce e do tratamento adequado, a mobilização busca promover o acolhimento tanto para os pacientes quanto para seus cuidadores. Para dar voz a essa realidade, a matéria reúne relatos de pessoas que convivem com essas condições e daqueles que as acompanham diariamente.
Lyza Maia, de 37 anos, foi diagnosticada com lúpus há um ano. A descoberta trouxe uma mudança completa em sua rotina, especialmente por ter afetado seus rins e exigido um tratamento intenso. “Tive que iniciar um tratamento forte, com muitas medicações, o que me causou aumento de peso, queda de cabelo e erupções na pele. Também tive que passar por duas cirurgias no rim e buscar acompanhamento psicológico para lidar com o impacto mental”, relata.
A necessidade de reorganizar sua vida foi inevitável, especialmente por conta das restrições impostas pela doença. “Trabalho externamente, mas não posso mais ter exposição ao sol. Precisei ordenar meus dias para encaixar os tratamentos, pois fiz três meses de quimioterapia, e os medicamentos me davam muito enjoo”, acrescenta.
Enquanto Lyza enfrenta os desafios do lúpus, Jennifer Silva cuida da mãe, Dona Lúcia, diagnosticada com Alzheimer há três anos. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 55 milhões de pessoas vivem com demência em todo o mundo, sendo que o Alzheimer representa cerca de 60% a 70% desses casos, tornando-se uma das principais causas de dependência entre idosos. Jennifer explica que a rotina da família passou por mudanças profundas após o diagnóstico. Sua mãe, que antes era ativa e independente, passou a esquecer tarefas simples do dia a dia, o que impactou a dinâmica familiar. “Precisamos adaptar a casa e nossos hábitos para garantir a segurança e o bem-estar dela”, conta.
Cuidar de alguém com Alzheimer é um desafio diário. Jennifer relata que os obstáculos vão além do cansaço físico e envolvem também o desgaste emocional. “Ver minha mãe perder suas memórias é uma dor indescritível. É um processo que exige muita paciência e força emocional. Minha mãe, às vezes, não lembra quem eu sou, e isso machuca muito. Mas eu tento me lembrar que é a doença, não ela, e sigo firme por amor a ela”.
Mesmo em meio às dificuldades, ela destaca que há momentos especiais que tornam a jornada menos pesada. “Existem dias em que minha mãe tem mais clareza. Ela me reconhece, sorri e até tenta contar histórias antigas. Esses momentos são muito preciosos para mim. Aprendi a valorizar cada sorriso, cada palavra que ela consegue dizer”, acrescenta.
Jennifer reforça a importância de dar visibilidade ao papel dos cuidadores, destacando que o apoio emocional é fundamental para quem se dedica a essa tarefa. “Muitas vezes, estamos tão focados em cuidar do outro que acabamos negligenciando a nossa própria saúde”, pontua.
O Fevereiro Roxo também destaca a fibromialgia, uma condição caracterizada por dores crônicas e fadiga. Embora os sintomas sejam debilitantes, o diagnóstico precoce e o acompanhamento médico podem melhorar a qualidade de vida dos pacientes. Já o Fevereiro Laranja reforça a importância da doação de medula óssea para pacientes com leucemia. Segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA), o Brasil deve registrar mais de 11 mil casos da doença por ano entre 2023 e 2025. A chance de encontrar um doador compatível fora do círculo familiar é de apenas uma em 100 mil, o que reforça a necessidade de ampliar o cadastro de doadores. Em Mato Grosso, há cerca de 71 mil pessoas cadastradas no Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea (Redome), mas o número ainda é considerado baixo em relação à população do estado.
O Conselho Regional de Medicina de Mato Grosso (CRM-MT) apoia as ações do Fevereiro Roxo e Laranja, reforçando a importância do cuidado com a saúde e do acompanhamento médico regular. “A mobilização busca promover a conscientização, o acolhimento e a solidariedade. É fundamental alertar a população sobre a importância do diagnóstico precoce e do suporte adequado aos pacientes e seus cuidadores”, destaca o presidente do CRM-MT, Diogo Sampaio.
Ao conscientizar sobre doenças crônicas e promover o acolhimento, o Fevereiro Roxo e Laranja nos lembra que, mesmo diante de desafios diários, a solidariedade e o cuidado podem transformar vidas.